quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Impeachment: a gosto do freguês

31 de agosto de 2016. Foi um dia de comemoração para uns e de luto para outros... De alegria para os que, depois de uma longa gestação, puderam ver hoje o nascimento de um projeto que começou a ser tecido pós-eleição de 2014. Projeto que chegou ao seu ponto alto com os o voto de 61 senadores que disseram sim ao impeachment.

Foi também um dia sombrio para os que tentaram, a todo custo, provar que o cenário político que se desenhava no país era reflexo de uma trama ardilosa e robusta. Esses estão de luto. Morreu para eles a derradeira esperança de salvar a combalida democracia e o mandato de uma Presidente eleita por 54 milhões de brasileiros.


Para uns, golpe de mestre... No sentido clássico. Jogada bem planejada e executada com louvor. Para outros, golpe baixo... Eivado de vícios, de pecados e tirania. Dos dois lados, soldados dispostos a lutar uma guerra-fria e declarada. Venceu quem teve maior artilharia. Venceu quem soube atacar. Perdeu quem apenas procurou se defender.


O Brasil inteiro se dividiu, escolheu lados, bateu no peito e foi à batalha. Mas os soldados das ruas pouco determinavam as decisões do quartel general em Brasília. Lá a guerra não era ideológica. Lá a guerra não era de espadas. Lá a guerra era de cargos, poder, dinheiro, vaidades.

O impedimento de Dilma Rousseff foi político. O mandato não foi cassado por causa de pedaladas ou decretos de créditos suplementares. Não foi a manobra contábil que tirou Dilma da presidência. Foi o desejo de opositores e até de aliados de chegar ao poder sem a legitimidade do voto. Alegaram que a conjuntura ou a soma dos fatores – desemprego, falta de governabilidade, crise econômica – era o bastante. Não seria. Mas foi. Não deveria.

A impopularidade de Dilma, a falta de manejo com o legislativo fizeram a mulher que mais longe chegou no Brasil à frente de um cargo no executivo tombar. Dessa vez, por decisão sumária, senadores da inquisição, condenaram-na em meio a um processo cheio de distorções.

Temer foi à reunião das economias mais fortes do mundo, o G20, na China, agora como presidente de fato. O preço dessa vitória vai chegar com juros e correção para o novo chefe do poder executivo brasileiro. Cargos foram barganhados e aliados vão cobrar. Aliás, já começaram. O PSDB quer pôr um fim às bondades do agora ex-interino. O campo é minado. Deve vir mais instabilidade por aí. O mercado, desconfiado, deve reagir negativamente... Isso significa que há problemas em curso que podem tomar proporções ainda maiores e piores.

O outro custo de tudo isso é que a decisão de cassar o mandato de Dilma mas manter seus direitos políticos pode abrir precedentes perigosos. Quem não lembra de Eduardo Cunha? Com mandato suspenso, ele trabalha – com ajuda de Temer – para se manter no cargo e não perder seus direitos políticos. Não duvido que consiga. Cunha não está morto.

Dilma Rousseff ainda pode disputar as eleições de 2018. Não creio que queira. A presidência foi o primeiro cargo eletivo dela e, provavelmente, o último. Até 2018, porém, ainda há trabalho a ser feito. Quem derrubou Dilma tem novo alvo: o nome dele é Lula. Pode apostar! 









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