quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Reforma da Previdência: o buraco é mais embaixo

A Previdência Social faz parte da Seguridade Social que abrange ainda a Assistência Social e a Saúde. Graças a esse modelo, o dinheiro do contribuinte não sustenta apenas o INSS como muitos pensam. E para financiar toda essa estrutura, necessário se faz outras fontes de custeio, que geralmente vêm do tesouro nacional e da emissão de dívidas de acordo com o presidente do INSS, o paraibano Leonardo Gadelha. É isso que, em tese, torna o sistema deficitário.

Digo em tese porque o assistencialismo, o caráter social da Seguridade Social não é o maior problema da Previdência, não é o que mais abocanha as contribuições de empregados, empregadores, aposentados. O trabalhador sustenta um modelo que, acredite, falido não está, até porque Previdência não é empresa para abraçar o conceito de lucro ou prejuízo. Então por que a reforma? Gadelha diz que a Previdência tinha um rombo de 85 bilhões de reais em 2015. Esse valor saltou para 160 bilhões em 2016 por causa do aumento do desemprego e, consequentemente, de pessoas que deram entrada ao seguro no INSS. Logo, com menos pessoas contribuindo e mais gente usando os recursos, a fonte deve se esgotar.

Mas esse, nem de longe, é o maior ralo por onde escoam os recursos da Previdência. Há outros buracos: o desvio de receitas da Seguridade Social para o pagamento de dívidas públicas – e isso acontece há pelo menos 2 décadas, o que contraria a Constituição –, e as políticas de incentivo concedidas a empresas. São mais de 69 bilhões de reais que deixam de ser pagos por ano nas chamadas renúncias fiscais segundo levantamento da Associação Nacional dos Auditores Fiscais. A Anfip fez mais um conta e mostra que somadas todas as fontes de financiamento sobra dinheiro, ou seja, há superávit.

Questionado sobre isso, Gadelha diz que o momento é oportuno para o debate. Nas palavras dele, o Estado "é um grande feixe e a sociedade precisa delimitar o tamanho desse feixe, ou seja, o tamanho da carga tributária e quanto dos recursos da sociedade vai para o governo, para serviços ou para o repasse de dinheiro" que é o caso da Previdência. Ele lembra que a última palavra sobre isso é do Congresso, diz que ainda há tempo para mastigar o assunto e chegar a uma fórmula que agrade a todos.

A reforma da Previdência propõe mudanças rígidas: idade mínima de 65 anos para homens e mulheres, tempo mínimo de contribuição de 25 anos para aposentadoria proporcional, de 49 anos para aposentadoria integral. Estabelece ainda a contribuição para trabalhadores rurais, a redução de 50% de pensões com acrescimento de 10% por dependente. São pontos que precisam, de fato, de ampla discussão.

Por outro lado, o texto, formulado pelo Governo Federal e não pelo INSS como Gadelha faz questão de lembrar, traz um ponto que deve agradar à sociedade. Por exemplo, enquadra ocupantes de cargos políticos, como senadores e deputados eleitos em 2018, nas regras gerais do INSS, submetidos, portanto, ao teto da Previdência que hoje gira em torno dos 5 mil e 200 reais. Para Gadelha, “o que há de equivocado nesse instante e se antecipar e tirar conclusões porque ninguém sabe ainda efetivamente o que vai sair do Congresso Nacional”.  Mas esse é exatamente o x da questão. A preocupação do povo não é gratuita. Discutir o tema todo mundo quer. Resta saber se o Congresso está disposto a negociar.


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