sábado, 23 de abril de 2011

O amor perdoa

Em uma fração de segundos, o mundo desaba. Você desaba. Sobram pedaços...
Você puxa o ar, mas ele não vem.
Você tenta a afastar a dor, mas ela te consome.
Você procura o chão, mas ele sumiu.
Você se encolhe, se abraça, chora, grita, se cobra e se pergunta: por quê? Como? Quando? Em que momento vocês se perderam?
A cabeça não deixa pensar. Pernas e mãos tremem. Você nega e mais uma vez se culpa. Você cala. Emudece. Você precisa respirar, precisa se achar,  precisa de respostas.
Mas você não consegue organizar as ideais. Está ferida demais. E novamente os fantasmas te perseguem. Não há como correr, como juntar as partes que se desmontaram como num quebra-cabeça. São muitos cacos. A verdade te dilacerou. Acertou em cheio o teu orgulho. Destruiu tuas certezas e plantou tantas dúvidas.
O tempo passa... Você respira tristeza. Dos teus poros exala um desespero cortante.
O tempo... Todos dizem que ele cura as feridas. Você espera numa busca incessante pela paz que te deixou naquele momento em que percebeu que ele não era mais teu, que vocês não mais se pertenciam.  Havia um buraco, um vácuo... E você percebeu que era você que faltava.
Tanto tempo dedicado ao outro. Tantos sonhos devotados ao outro. De repente, caminhar sem o outro era impossível. Ele te dava segurança. Você, ele e a dependência. Um tripé sólido que não te deixava cair, mas que, ironicamente, também não te deixava avançar.
Então você entendeu. Entendeu que a relação adoeceu, que vocês se acostumaram, se acomodaram. Você respirou e pensou: já era.
Agora a dor era outra. Já não era mais a descoberta de que existia alguém entre vocês que machucava mais – alguém que preencheu aquele vazio porque encontrou a brecha. 
A dor de agora pesava a cabeça, embrulhava o estômago, espetava a alma porque tudo estava mais claro: os erros foram minando o que havia de mais belo. Você não viu porque os problemas e as ilusões te absorveram tanto que te cegaram. Faltou cuidado.
Ele tentou avisar. O amor deu sinais que estava sufocando. Você não deu ouvidos e se perdeu. Quando, enfim, você voltou, era ele que já não estava mais. Perceber isso. Enxergar essa verdade é que doía tanto e te corroía vorazmente.
Mas o amor se reinventa. Não morre como o calor das paixões.
Passado o baque, a revolta, a turbulência das emoções desarrumadas, você pondera. Hora de pesar tudo na balança. Passa um filme na sua cabeça. Cada briga, cada reconciliação, todos os sorrisos. Coração e razão se batem. Você respira fundo na ânsia de ouvir a voz daquele que te fortalece e te bombeia vida...  O Tum-tum-tum fica mais forte e agora só pulsa uma certeza: o amor perdoa e te transforma numa pessoa muito melhor.
Saiu o todo o peso. O fardo ficou mais leve. A experiência ruim te fez acordar. Balançou tudo aí dentro e te mostrou que errar faz parte da evolução humana e aprender com os erros é um passo importante pra ser feliz.

terça-feira, 5 de abril de 2011

"O pra sempre, sempre acaba"


Você acha que é pra sempre. Você sente. Tudo em você grita isso! Afinal, tudo em vocês é exatamente igual: cada reação, cada suspiro, todos os sonhos... E essa sintonia só pode ser divina. Estão conectados, impregnados um do outro. Um pensa e no mesmo instante o pensamento do outro responde. Sorriso. Só risos... Não, não existe nada maior!

Você acha que é pra sempre. Você sabe. Duas almas nascidas juntas das mãos do Criador. Gêmeas. Vocês crêem nisso! Afinal, tudo em um completa o outro. Não existem lacunas, nem dúvidas. Tudo é certeza. Almas que se reconhecem, que se enxergam, eternizadas no amor. Você diz: sempre tua. Ele responde: sempre teu. Não, não existe nada maior, nem mais sublime!

Você acha que é pra sempre. Você quer. Você sonha e planeja. Vocês compartilham esse desejo de um futuro bom. Vocês desafiam regras porque elas são pequenas diante desse amor imenso, incomensurável. O outro fala, coração acelera e isso é bom. Pernas e braços estremecem e isso é bom. Você fecha os olhos e no instante seguinte aquela voz te acalma. Dois extremos. Não, não existe nada maior, nem mais mágico!

Você tem certeza que é pra sempre. Isso te consome, te motiva, te alimenta, te renova. Todos os dias é assim. Passam semanas, meses... Os anos se passam e esse amor parece tão novo. Surpreende a cada instante. Inspira. Vocês ensaiam frases que só vocês entendem. Um código secreto: ‘amor, pureza, fidelidade’. Eis a santíssima trindade dessa união que só se fortalece. Não, não existe nada maior, nem mais intenso!

Mas você também tem certeza de uma outra coisa. A vida já ensinou, a letra da música também: “o pra sempre, sempre acaba”. O poeta já chorou em versos a eternidade de um amor que se dissipou nas páginas do tempo. Na crueldade de um instante você descobre que o sonho se vai quando o corpo desperta do sono profundo... Você só não sabia que essa agonia doía tanto! Não, não existe nada mais irônico!

De repente você descobre que tudo era pó... Que o vento soprou e levou embora todo o tesouro que cintilava teus dias com ternura demasiada. De repente você vê que tudo era tão frágil! E você ouve os sons desse amor se dissipando no horizonte de uma saudade atrevida. Você se sente só, pequena, enganada, perdida, traída. E de repente se sente metade outra vez! Se pergunta, se cobra. Não, não existe nada mais cortante!

E você acha que isso também é pra sempre. A dor não passa. O ar foge. Desespero. Mas você não chora. E se os olhos te traem, os dentes travam. Você engole e isso te consome. Uma ferida aberta pela lembrança... Eis que um dia você olha tudo em volta e percebe que, de repente, as cores se enchem de brilho e que a vida te abraça. È o amor que se instala mais uma vez. Não existe nada mais desconcertante, nem mais vibrante!

No início, cautelosa. Depois entregue. O medo cede. É hora de recomeçar, de acreditar que é possível ser feliz, de apostar todas as fichas. Tudo volta a ser poesia. O passado já não machuca. Novamente suspiros, sonhos, planos... Novamente promessas de um amor eterno. Você pensa, sorri e percebe que reconstruir é preciso e que essa é a essência da existência. Não existe nada mais certo, nem mais belo!