domingo, 4 de setembro de 2016

Um final de trama inesperado e a judicialização da política

(Esta coluna foi ao ar no Primeiro Plano/TV Manaíra e Band News FM Manaíra em 1 de setembro)


Nem o mais experiente dos políticos ou o mais douto dos juristas esperava por esse final de trama! Final? Será?  Salvando Dilma Rousseff da inelegibilidade, Senadores abriram uma brecha que pode servir aos corruptos ainda não condenados com perda de mandato, a exemplo de Eduardo Cunha.

Todos falam que os parlamentares criaram um “monstrengo jurídico” difícil de derrubar. Logo após a sessão histórica de quarta-feira, 31 de agosto, alguns deles vociferaram contra a decisão dos colegas. José Maranhão, presidente do PMDB na Paraíba, foi um deles. Reclamou e depositou suas esperanças no Supremo Tribunal Federal. Os Ministros da Corte Maior precisam decidir essa questão, disse ele. PMDB, inclusive, junto com PSDB, PEM, PPS e outros partidos, entraram com Mandado de Segurança Coletivo no Supremo para tentar anular a decisão do plenário do Senado, mesmo sabendo que correm o risco de ver o processo de impeachment anulado caso o STF julgue a matéria. É uma possibilidade.

Essa judicialização da política brasileira é nefasta para o Sistema... Nefasta porque o judiciário, nesse caso, representa a força. São decisões que entram goela abaixo. Entre a força e o diálogo, eu fico com a segunda opção. Mas não sou eu a brigar por um mandato ou governo. E de olho na força do STF, Dilma Rousseff também não se fez de rogada e entrou com Mandado de Segurança para reverter sua cassação. O caso caiu nas mãos de Teori Zavascki e não tem prazo para ser julgado, assim como não há prazo para julgamento da chapa PT/PMDB no Tribunal Superior Eleitoral. Se houvesse, Michel Temer teria motivos para se preocupar.

Posto isso, me atenho aos discursos do ex-aliados... Primeiro o de Temer. Em meio a todo o blá-blá-blá, o agora Presidente da República deixou muito claro que, sacramentado no cargo,  dará início ao arrocho fiscal e a uma política de austeridade chamada por economistas experientes de austericídio. As prioridades são as reformas trabalhista e previdenciária com foco na flexibilização de direitos consolidados pela CLT, a suspensão de concursos públicos, o encolhimento de repasses para Estados e para o SUS, etc. Concretizando-se essas metas, Estados sofrerão. Vai ser uma montanha russa em descida constante... A previsão de economistas não é otimista, diferente do que dizem muitos parlamentares paraibanos. A tendência é, que daqui pra frente, mais postos de trabalho sejam fechados. Tendência. Pode ser que os economistas estejam errados. Duvido muito.

Agora vamos ao discurso de Dilma... A petista prometeu continuar na luta e garantiu que o governo Temer, a quem chamou de usurpador, sofreria a mais dura oposição da história. Preciso lembrar que oposição é necessária, afinal, toda unanimidade é burra, já dizia o jornalista e escritor Nelson Rodrigues. O que o PT não pode é, novamente, insistir no erro e se igualar a quem tanto criticou. É preciso que se faça uma oposição responsável, capaz de chacoalhar os debates, lançar olhares diferenciados sobre um mesmo tema, e lutar para que a decisão que melhor atenda aos anseios da coletividade seja acolhida. Qualquer coisa diferente disso é politicagem e barganha barata. E desse tipo de coisa, o Brasil não precisa.

2 comentários:

  1. Texto lúcido ... O que precisamos agora é lutar por eleições para todos os níveis com uma assembleia que faça as reformas de base necessárias para o país...

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    1. Obrigada pela participação, Wagner. Grande e fraterno abraço.

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